Thursday, October 11, 2007

O amor dos nossos tempos


Ainda no outro dia, andávamos de mão dada com a nossa mãe, fazendo perguntas a torto e a direito, quando hoje nos calamos nos silêncios e não perguntamos nada, porque temos medo das respostas ou do vazio de não haver respostas. Calamo-nos e perdemos o olhar em qualquer ponto distante.
Esta vida da cidade cosmopolita, tornou-nos sombras projectadas numa parede, sombras essas que se movem lenta e silenciosamente, sem ousarmos os gestos bruscos, para nos arrancarmos dessa rede de amores inconfessos, porque o que descobrimos sempre - é que estamos sós - sempre sozinhos. Pequenas ilhas num mar de turbulência exestencial, que nos condena à cortina das palavras para esconder a plenitude de um anjo redentor, que nos canta, mas não nos consola da dor que nos arrepia e asfixia até ao limite do que conseguimos suportar.
Agarramo-nos a velhos dogmas, a caras sorumbáticas, mas um carinho é uma raridade.
O amor hoje é mais concreto, porque se vive mais no movimento de morar no corpo do outro, do que na sedução maravilhosa, que é amar impulsivamente o cetim da pele da coisa amada.
Mas a ideia de amar o amor, morreu, com o marinheiro triste que chorava. Trouxeram-nos a liberdade, mas tiraram-nos a utopia. Aquela sensação estranha de estar apaixonado e sentir uma grossa linha de entusiasmo a subir pela espinal medula acima. Mas quem amar num mundo onde as pessoas se dedicam ao descrédito de si próprias e só querem a sua vitalidade resumida a uma essência material e finita, algo que não fique a perpetuar no tempo, como a promessa de um beijo.

1 comment:

AnaGF said...

Eu não sou assim tão pessimista - como sabes! - e acho que o tigre também não...